De Sampa a Vacaria: cupido virtual

Edson largou a capital paulista por amor

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Tem muita gente procurando a tampa da sua panela, a metade da sua laranja. Afinal, todo mundo quer amar. E para os solteirões de plantão, a Vai e Vem traz nesta semana uma história otimista, que comprova que o amor não tem hora, tampouco endereço certo, para chegar.

Em meio a 10 milhões de pessoas, na maior capital brasileira, São Paulo, Edson Pagnota se apaixonou por sua futura mulher a 880 quilômetros de distância, pela internet. “Eu conheci a Tita em um chat do UOL, naquelas salas de bate-papo em que você entrava optando por uma cidade ou tema”, explica. Para quem cresceu acostumado ao mundo virtual e suas ferramentas – WhatsApp, Facebook, Tinder – é difícil imaginar o que era começar um relacionamento virtual 15 anos atrás.

“Na época não tínhamos acesso a nenhuma informação da pessoa, somente a que ela informava na conversação. O legal é que conheci primeiramente as ideias dela; depois a voz, ficávamos horas no telefone. Tempos depois, o visual”, comenta Edson.

O publicitário de 43 anos costumava entrar nos chats no intervalo do trabalho, para desopilar. “Trabalhava em um escritório de tradução onde fazia diagramação de livros e manuais. Muitas vezes, adentrava a noite para finalizar um job. O chat era uma companhia. Logo que conversei com a Tita, rolou uma sintonia”, confessa.

A afinidade entre os dois fez Edson enfrentar uma viagem de 14 horas de ônibus até Vacaria.

“Não existia a Gol ainda, a empresa aérea. Aproveitei o mês de férias para conhecer Tita. A sintonia se confirmou, e logo vim pra ficar”, conta. Edson fez o caminho inverso de muitos jovens que migram para morar nas grandes cidades.

“São Paulo tem muita coisa boa, é desenvolvida, rica culturalmente, pulsante. Sampa não dorme. Mas eu estava cansado de desperdiçar tanto tempo de minha vida no trânsito”, diz.

O paulistano gasta, em média, três horas diárias da casa ao trabalho. Para Edson, a forte cultura do bar – happy hour – está relacionada aos congestionamentos. “As pessoas vão para os bares para ganhar duas horas. Depois que o trânsito desafoga, seguem para casa”, explica.

O ritmo desacelerado de Vacaria e as relações mais próximas entre as pessoas fez Edson se firmar.

“Adoro morar em Vacaria. Vou ao trabalho a pé e conheço os meus vizinhos. Em São Paulo você não tem laços, todo mundo é mais solitário”, diz.

Outra diferença marcante entre as cidades é o clima. “Nunca tinha visto uma geada. Certo dia, abri a janela e vi a grama em frente à Casa do Povo congelada. E na paisagem tinha uma vaca perto, pastando. Uma cena antológica”, conta rindo. “O frio foi novidade, algo lúdico”, relata.

Lúdica foi também a descoberta da linguagem gaúcha. “Logo que cheguei, tive de fazer um esforço enorme para entender as pessoas. Ficava desorientado nas rodas de amigos”, conta. Edson relembra alguns mal-entendidos.

“Em São Paulo, quando dizemos que um motorista é ‘braço’ significa que é ruim. Aqui é o oposto. E se alguém faz algo muito legal, dizemos que é ´chapado´, destaca. Além da linguagem, a forma de o gaúcho se expressar também gerou confusão.

“O paulista, quando quer algo, solicita ou pede; o gaúcho, manda. É mais agressivo ao se expressar”, constata. Edson acredita que tal jeito é uma herança cultural. “As relações têm muita influência do meio rural, onde cada um vivia no seu quadrado, sem muito contato”, imagina. Diferentemente, em uma megalópole como São Paulo, o povo está acostumado com muita gente. “Convivemos com baianos, alemães, japoneses, russos, gente de todo lugar. Por isso somos mais abertos, mas não necessariamente menos preconceituosos”, frisa.

São Paulo é hoje a sexta maior cidade do mundo. Com tanta gente, a cidade não tem um linguajar próprio, têm milhares. “Destacar uma gíria paulista é difícil, pois cada grupo tem sua própria linguagem”, pontua. Edson acredita que essa diversidade, essa mistura está entre os pontos fortes de São Palo.

“Quando você se envolve com diferentes culturas, você abre a mente”, explica.

Edson estava aberto quando começou a teclar com Tita, em 2000. “De cara, rolou empatia, curiosidade, identificação. Foi por ela que vim e estou aqui”, confessa. O cupido não nos poupa. Quando menos se espera, somos fisgados por suas flechas e as artimanhas do coração.

Coluna publicada originalmente no Correio Vacariense na semana do dia dos namorados, em junho de 2016, na coluna VAI E VEM. 

 

LUGARES IMPERDÍVEIS: 

Mercado Municipal: Tem o generoso sanduíche de mortadela, famosíssimo no Brasil.

Avenida Paulista: Ícone da capital. Concentra escritórios das maiores empresas do país e várias opções culturais. Destaque para o MASP.

Centro antigo: São Paulo não tem apenas um centro, têm vários. Na Sé, estão construções antigas da cidade, remanescentes da fundação (1554) pelos jesuítas.

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