De Pernambuco a Vacaria

Conheça a história da pernambucana Ederci, que teve seu coração roubado pelo caminhoneiro Vitão

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Dia 12 de junho é Dia dos Namorados e, colado nele, o 13 é Dia de Santo Antônio. Aproveitamos as datas para contar a história de Ederci, uma feliz pernambucana que migrou a Vacaria por amor, ou melhor, por “momô”.

O AMOR PODE ESTAR DO SEU LADO

Aos 22 anos, Ederci curtia o dia na Praia da Boa Viagem, com as amigas, quando o vizinho de guarda-sol parecia estar com torcicolo. O moço alto olhava insistentemente para o lado – delas! Não tardou a se aproximar e puxar conversa.

Era um homem alto, imponente, chamava a atenção porque era diferente, vi que não era dali. Quando chegou perto, logo disse que era de Vacaria. Eu o achei lindo, parecia o ator Paulo Goulart”, revela Ederci.

O gaúcho estava de passagem por Recife. Quando avistou a guria de sorriso nos lábios, e nos olhos, já estava com o caminhão carregado para voltar. Mesmo assim, resolveu convidá-la para um encontro no final da tarde.

“Nos encontramos em Afogados, o bairro em que eu morava. Trocamos ideias, abraços e beijinhos. No dia seguinte, ele foi me buscar no banco, onde eu trabalhava, com um buquê em mãos”, conta. Pouco mais de 24 horas foram suficientes para os dois se encantarem e começarem um namoro.

“Engatamos o namoro de cara. Namorávamos por cartas, telegramas e telefonemas. Nos vimos só quatro vezes antes de casar”, conta.

Ederci com o esposo e o pai que mandou levantar a ficha do rapaz antes de ela casar.

Ederci nasceu em Gravatá, uma cidade turística, a 84 Km da capital. Migrou para Recife depois de concluir o magistério, para avançar nos estudos e trabalhar. Ela era caixa no Banco Industrial de Pernambuco. A vida ia bem, obrigada, até aparecer Antônio e “atrapalhar”.

“Ele começou a pedir para o seu Nereu Fernandes, com quem trabalhava, que lhe desse carga para o Recife com mais frequência”, salienta. Os 3.743 Km de distância eram percorridos com ansiedade.

Quando Maria José e João José souberam do romance da filha, ficaram preocupados. João, que era funcionário público, um homem influente e bem relacionado na cidade, acionou o padre e o juiz para levantarem a ficha corrida do rapaz.

Em Gravatá, teve uma moça que se casou com um caminhoneiro paulista. Tempos depois, descobriram que ele já era comprometido. Imagina a confusão. Meu pai quis se certificar de que isso não iria acontecer comigo”, explica.

O religioso fez contato com o padre de Bom Jesus, onde nasceu Antônio, e o juiz com a polícia local. Depois de investigado e com a ficha limpa no cartório, Antônio Sálvio da Silva Silveira estava apto a casar. O nome completo do rapaz fora conhecido na apuração, mas se quisessem mesmo saber referências do moço de 28 anos, teriam de perguntar por Vitão.

“A vida inteira o chamamos de Vitão. Eu mandei gravar em um chaveiro, a frase: Vitor, eu te amo. Enviei o presente pelo correio, embrulhado em muito papel, deu um trabalho danado para abrir”, conta.

Era janeiro quando os dois se cruzaram na beira da praia. Abril, quando os pais da moça conheceram o gaúcho. Era agosto quando noivaram, e em setembro eles se casaram. “Ele me pediu em casamento por telefone. Quando veio me ver, trouxe a aliança, adivinha onde? Embrulhada em um monte de papel, igual ao chaveiro”, relata.

No casamento, a família de Ederci estava completa: pai, mãe e seus dez irmãos. E dos Silveira, só estava o Vitão. Eita, menina, cabra macho, como dizem no Nordeste às mulheres de coragem.

Ederci com seus 10 irmãos | A moça da terra de São João

Quando me questionavam se eu não tinha medo de vir para o Sul sem nada conhecer, eu disse que não. Estava confiante. Se algo desse errado, bastava comprar uma passagem aérea e voltar”, explica.

Foi então que, com enxoval à mão e malas no caminhão, partiram os dois rumo à Vacaria.

DO NORDESTE DO BRASIL PARA O NORDESTE DO RIO GRANDE

Ao chegar a Vacaria, Ederci percebeu as grandes distâncias que separavam os dois estados: geográfica e cultural. “O nordestino é caloroso, apegado, do toque, do abraço. Aqui o pessoal é mais reservado”, conta.

Aos poucos e com docilidade, Ederci foi conquistando a família do marido e a cidade. “Tive sorte porque Antônio, ao contrário de muitos homens, nunca me ‘podou’. Sempre gostou do meu jeito de ser, carinhosa, amigável. Ele inclusive, apesar de ciumento, me elogiava muito. Lembro que não levou 15 dias para eu e dona Artulina, minha sogra, tomarmos banho de sol e cerveja juntas”, revela.

Quem conhece Ederci sabe que ao cruzar com ela vai ganhar um sorriso, um abraço ou no mínimo uma saudação afetuosa. “Eu gosto de ser assim, eu sou feliz. Quando passo pela parada de ônibus, digo bom-dia, boa-tarde, especialmente para quem parece estar triste. A gente pode deixar o dia do outro melhor”, comenta.

E é com alegria que ela conta da sua estada em Vacaria. Com Vitão, teve dois filhos: Janaína e Felipe. “Criei meus filhos do jeito nordestino de ser. Lá, os filhos têm muita atenção com os pais e respeitam a sua autoridade. Eu nunca saía sem pedir benção pra mãe”, pontua.

Os filhos Janaína e Felipe.

Quando chegou a Vacaria, foi estudar. Fez faculdade de Letras na Falev e, depois, especialização em gestão escolar e inclusão social. Trabalhou nas escolas Soli Gonzaga dos Santos, Juventina Morena de Oliveira, Nabor Moura de Azevedo. Atuou, também, na Secretaria Municipal de Educação e, há 5 anos, está na Associação de Meninos e Meninas Assistidos Santa Cecília (AMMA), onde desenvolve atividades com crianças e jovens no contraturno escolar.

Ederci é professora na Associação dos Meninos e Meninas assistidos Santa Cecília

“Adoro o que faço. Quando menina, eu pensava em ser bailarina clássica, modelo ou professora. Deu certo, a terceira opção” diz.

O bailar ficou apenas no sonho. “Sempre gostei de dançar, venho da terra das grandiosas festas de São João e suas quadrilhas. O povo nordestino é muito alegre, é festeiro e grato pelo que tem. “Momô” não gostava de baile, dizia ser duro para a dança. Ao me ver saudosa, comprava um metro de lenha e montava no pátio de casa a nossa fogueira de São João”, conta.

Momô” é a forma carinhosa com que os dois se chamavam. “Era momô, mozinho ou mozão. Nunca nos chamamos pelo nome, mesmo depois de 40 anos casados”, diz.

Fogo também tinha na lareira, quando Antônio se aposentou do caminhão. “Vitão trabalhou bastante tempo como caminhoneiro, e foi também árbitro de futebol. Por problemas na visão, teve de parar. Nos dias frios, sempre me esperava com a lareira prontinha”, conta. Ela, claro, não era menos carinhosa.  “Sempre que ele viajava, eu o esperava com arroz de forno, seu prato predileto. Gostava também de estar sempre arrumada, perfumada, bem bonita”, diz.

O carinho, a troca de afetos e de cuidados sempre pautou a relação. Antônio partiu faz dois anos. “Eu tive um amor lindo, fui muito feliz e sou grata por isso. Antônio era um homem de movimento, cheio de vitalidade. Saíamos para viajar, jantar, passear. Sinto falta dele”, revela.

Quando questionada se tem receita para um relacionamento durar, ela indica duas: “Primeiro é preciso muito amor e, depois, confiança. Eu confiei na minha intuição de que ele era um homem bom, e acertei em cheio.”

Ederci, Santo Antônio
Ederci e Santo Antônio que fica pendurado na porta de casa. Uma parceria que deu certo.

por Giana Pontalti | junho de 2019

 

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