Os profissionais que chegam para trabalhar

Angelo Sartor, Diretor Comercial, Administrativo e Financeiro da Rasip

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Ontem foi 1º de Maio*, dia dos trabalhadores. A data relembra a luta de operários americanos que, em 1886, fizeram greves reivindicando melhores condições de trabalho e a redução da jornada – que, nos Estados Unidos, chegava a 14 horas diárias. A luta é antiga e atual. Milhares de pessoas migram todos os anos em busca de uma oportunidade profissional.

O trabalho é essencial para a sobrevivência. Em nome dele, os fluxos migratórios nacionais e internacionais são intensos. Tem gente que migra para ascender em uma carreira, ou simplesmente por um lugar ao sol. Vacaria ilustra bem esta realidade. Há tempos, seus jovens – com ambição e alguma condição financeira – seguem para as grandes cidades para estudar e trabalhar. As poucas indústrias instaladas na cidade precisam, então, garimpar profissionais de fora para compor suas equipes de coordenação e gestão.

É a trabalho que Raul Diettrich, Daniele Bagatini, Táulio Righes e Angelo Sartor estão aqui. “Sou engenheiro mecânico, fui convidado a implantar a injeção plástica na Resfriar”, conta Raul, 48 anos, coordenador de qualidade, há seis anos na cidade. “Estava em Curitiba e queria estar próxima a minha família, que é de Caxias”, revela Daniele, 33 anos, coordenadora de importação e exportação, há três em Vacaria. “Sou recém-formado e fui chamado para integrar a equipe de engenharia, como projetista”, conta Táulio, 25 anos, engenheiro elétrico, há um ano por aqui.

Todos se sentem confortáveis com a cidade e não tiveram resistência em mudar. “Nem refleti muito sobre Vacaria. Pensei que estaria em uma cidade vizinha à Caxias do Sul e teria mais tempo para mim. Em Curitiba, perdia várias horas no trânsito”, simplifica Daniele. “Eu já estava acostumado a morar em lugares pequenos, meu pai era bancário e foi transferido de municípios algumas vezes. Não tive problema em me adaptar”, conta Táulio.

A tranquilidade do interior, a menor competitividade frente às grandes cidades e, também, a segurança profissional atraem os profissionais.

“Gosto do que faço e da empresa onde trabalho. Aqui temos certa estabilidade, o que gera um ambiente mais tranquilizador”, conta Raul.

Raul Diettrich | Arquivo pessoal

Ao chegarem, a acolhida dos vacarienses os surpreendeu. “Na primeira semana em que cheguei, recebi um abraço da síndica do meu prédio, de boas-vindas. Achei o pessoal muito aberto”, explica Daniele. “Quando comecei a trabalhar, a responsável por recursos humanos da empresa me levou para dar uma volta na cidade e me explicou como tudo aqui funcionava. Estranhei que muitos pontos comerciais fecham ao meio-dia”, diz Raul. Também chamou a atenção dos profissionais a forte tradição gaúcha e o jeito direto de o povo se expressar.

 

“A cultura farroupilha é forte. A gente vê gente de bombacha, pilchado, falando forte. O vacariense diz o que pensa, não poupa ninguém. Mesmo assim é amistoso”, constata Daniele.

No ambiente profissional, chama atenção a relação dos colegas que extrapola o ambiente de trabalho. “Acabamos convivendo muito com os colegas, até nos finais de semana”, diz Táulio. “Aqui se contrata muitas vezes por indicação de um parente ou conhecido. Pode não ser muito saudável para a empresa, pois na hora do resultado, muitas vezes, se confunde o pessoal com o profissional”, analisa Raul.

Angelo Sartor | Divulgação RAR

O diretor comercial, administrativo e financeiro da Rasip, Angelo Sartor, diz que o fato de Vacaria ter pouca oferta de mão de obra qualificada, gera um ambiente de trabalho peculiar.

“Em Vacaria há algumas características interessantes. A rotatividade na Rasip, por exemplo, é baixíssima. As pessoas ficam uma vida ali. Isso gera algo bom, que é o comprometimento e a forte identificação com a empresa. O lado ruim é a acomodação”, explica Angelo.

Angelo é de Caxias do Sul e está há oito anos em Vacaria. Antes de vir pra cá, morava no interior de São Paulo. “Não dá para afirmar que Vacaria estimula a vinda de um profissional. A cidade em si é restrita. Vim pelo desafio proposto e porque a Rasip é uma empresa do grupo Randon, que respeito muito”, confessa. Angelo dedica seu tempo de segunda a sexta para a empresa. Nos finais de semana, segue para Caxias, onde convive com a esposa e filha. “Gosto muito de filmes. É inacreditável que uma cidade com 60 mil habitantes não tenha um cinema”, relata.

A falta de entretenimento é criticada por todos os entrevistados. “Qual a opção no fim de semana? Bailão. Vacaria precisa de mais opções”, diz Raul. “Aqui todo mundo se junta com a família no final de semana, ou vai para o sítio, não tem quase nada para fazer”, diz Daniele. Outra queixa dos profissionais é em relação à qualificação. Vacaria é carente de cursos, de especialização. Este é um dos fatores que pode contribuir para que os profissionais deixem a cidade. “Atualização é fundamental. Ou aprendemos com quem trabalhamos, com gestores altamente preparados, ou precisamos investir em cursos de aperfeiçoamento. Vacaria não oferece isso”, explica Daniele.

Os entrevistados não estão ávidos para mudar de trabalho ou cidade, mas estão abertos às oportunidades. Assim como os jovens da cidade, que migram em busca de trabalho, diversão e educação.

*Coluna publicada originalmente no Correio Vacariense em 02 maio de 2015.

Por onde andam os profissionais neste 01 de maio de 2018:

Raul Diettrich e Angelo Sartor continuam na Resfriar e na RAR, no batente.

Táulio Righes trabalha atualmente como autônomo.

Daniele Bagatini migrou para Caxias do Sul onde abriu sua própria empresa de comércio exterior, a Wings and Roots. A Resfriar é agora uma de suas clientes.

por Giana Pontalti | texto escrito em maio de 2015, publicado no jornal Correio Vacariense

 

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