Analu Silva,
designer

A importância da participação feminina na política
Especial Papo de Mulher

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por Giana Pontalti

Coragem: é preciso muita coragem para ingressar na política. “Nós mulheres não nos sentimos preparadas, porque foi nos dito que este espaço não é nosso”, pontua Analu. Aos 32 anos, a vacariense, lançou-se ao pleito eleitoral em 2020 depois de um despertar interno que a encorajou a disputar uma das vagas do legislativo vacariense. “Eu acompanhava o legislativo, via três mulheres e doze homens na Câmara e pensava: tem algo de errado nisso”, destaca.

Analu representa muitas jovens mulheres que nas últimas eleições buscaram ingressar nos espaços de decisão e poder. | Foto: Samara Pacheco, Esthudio F18

Analu fez bonito nas urnas, foi a 10ª candidata mais votada da cidade, em uma disputa com 203 candidatos. É a primeira suplente do PDT. A jovem, que percorreu Vacaria durante a campanha vestindo uma camiseta que mandava o recado “Lute como uma garota” deu voz à pluralidade de mulheres vacarienses e às pautas como a violência doméstica, o assédio sexual, as raras oportunidades de trabalho e renda, entre muitas outras.

“Eu sou designer, trabalhei quatro anos e meio em uma multinacional calçadista, a Grendene. Quando saí de lá, me permiti viver um tempo de autorreflexão para pensar o que realmente eu queria fazer, qual era o meu propósito. Fui ao Fórum internacional What design can do? Lá foram apresentados cases de design que contribuíam para o combate da violência contra a mulher. A possibilidade de trabalhar com o design social reverberou em mim. Esta era uma vertente do design que me chamava a atenção desde a faculdade”, diz.

Entre 2018 e 2019, Analu ajudou a desenvolver o projeto Acolher, do Ministério Público, em Vacaria. De lá pra cá, só cresceu o diálogo com as vacarienses, e são elas que Analu quer tanto representar. “Eu não procurei a política, foi acontecendo. Desde pequena, incomoda-me a desigualdade. Fui a muitas capacitações e tudo que eu ouvia, que fazia sentido para mim, convergia para a política”, diz.

Analu é nossa convidada para o bate-papo sobre A importância da participação das mulheres na política. Confira a entrevista e o Fala Guria logo abaixo.

ENTREVISTA

FALA GURIA

Profissão: designer, graduada pela Universidade de Caxias do Sul.

O que queria ser quando criança: atriz. “Pensei em estudar artes cênicas, artes plásticas e jornalismo. Amava desenhar, essa habilidade e a análise de mercado me levaram a escolher design. Entrei no curso depois de fazer quatro vezes o ENEM, não tinha como pagar”.

Trabalho: Já atuou na multinacional Grendene SA, no Ministério Público em Vacaria, no projeto Acolher, que ampara e capacita mulheres vítimas de violência e, hoje, é designer autônoma.

O que o design tem a ver com a política: “Uma das definições de design que mais gosto é que diz que o design é projeto: pode ser projeto gráfico, projeto de um produto, de um modelo de negócio e por que não de uma política pública? No design, nós desenvolvemos metodologias de pesquisa, análise e criação para desenvolver projetos que atendam as necessidades das pessoas. Vejo que falta isso na política, faltam projetos bem estruturados, consistentes e desenvolvidos com base em evidências, em pesquisas e construídos de forma colaborativa, envolvendo a comunidade”.

Design social: “Nada mais é do que usar as ferramentas do design para desenvolver projetos sociais”.

Visão da política antes de ser candidata: “Péssima, a pior possível. Falta-nos representatividade”.

Por que ingressou na política: “Para dar voz às mulheres, para mudar”.

A violência contra a mulher: “É assustador ver que uma mulher ainda tem que mudar de cidade porque é ameaçada por um ex-companheiro”.

Intuição: “Trabalhei um bom tempo na Grendene, onde aprendi muito, mas estava incomodada.  Quando olhei a parte de trás do meu crachá, li que o primeiro valor da empresa era o lucro, entendi porque não estava conectada”.

Crescimento de mulheres na política: “Tem muitos movimentos no Brasil que incentivam a participação das mulheres da política como o Vote nelas, o qual sou embaixadora, o Brasilianas e Elas no poder. É urgente nos apropriarmos deste espaço que também é nosso”.

Capacitação política: “Para ser candidato a um cargo eletivo não há exigência de qualificação, o que faz com que tenhamos poucos políticos capacitados. Mesmo que não seja obrigatório, os candidatos deveriam buscar se qualificar, já que os eleitos precisarão de conhecimentos específicos para desempenhar a função. Hoje, existem algumas organizações que oferecem formação política gratuita como o RenovaBr, por exemplo. O Politize é uma organização que promove educação política acessível e de forma didática pelo seu site, redes sociais e canal no YouTube.”

A formação é para candidatos e eleitores também.

O que mais lhe incomoda: a desigualdade.

O que lhe faz feliz: “O ativismo, a esperança de que podemos fazer algo grande”.

Quais são as pautas femininas que merecem destaque hoje: “Não tenho como não trazer a violência doméstica, Vacaria é a 12ª cidade com mais casos de violência doméstica no estado”. Analu destaca o assédio, a violência obstétrica, a discriminação no mercado de trabalho para as mulheres que querem ser/são mães também.

Um sonho: “Fazer com o que meu trabalho seja uma ferramenta de transformação social”.

Especial Papo de Mulher | março de 2021

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