Anelise Becker Leoncio,
terapeuta ayurveda

Anelise conversou sobre o valor do feminino
Especial Papo de Mulher

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por Giana Pontalti

Anelise Leoncio é puro movimento, é fluidez. Quando conversamos com a Anelise, para este Especial, ela carregava no ventre a Aruana, com 39 semanas de gestação. A cada pergunta, inspirava profundamente para deixar fluir as respostas conforme a sua intuição.

A terapeuta ayuveda pousa com a sua medicina: os alimentos. Foto: Samara Pacheco | Esthudio F18

Foi ouvindo a sua voz interior que Anelise tornou-se terapeuta corporal e ayurveda. “Na ayurveda, entendemos que tudo que existe é formado por água, terra, fogo, ar e éter. A vida é a dança desses elementos em busca de equilíbrio”, explica. “Nós somos natureza, somos parte dela e tudo está conectado. Se o dia está nublado, provavelmente também estaremos, e está tudo bem”, diz.

Anelise quer ajudar a curar, ajudar as pessoas a viverem com menos sofrimento. “Desde pequena,  tenho um olhar sensível ao outro, sempre gostei de ajudar. A massagem indiana me trouxe muitas respostas, mas precisava aprofundar. Foi em uma busca de visão (espécie de retiro praticado pelos índios guarani) que a ayurveda me veio como caminho”, explica.

“Cada um de nós tem o seu próprio caminho, o nosso Dharma. Quando você não exerce os seus talentos, os seus dons, o vazio toma conta”, alerta. Anelise percorreu muitos caminhos até encontrar o seu. “Para encontrar a sua vereda, tem que se autoconhecer. E olhar para dentro não é fácil, dói. Muitas vezes vivemos em sofrimento porque estamos formatados em um jeito de viver que não é o que a nossa alma pede”, alerta.

Anelise é uma das convidadas do Papo de Mulher. “O feminino tem em si uma intuição apurada. Se não ouvimos a nossa intuição, vamos nos afastando de nós mesmas. É muito triste quando se chega aos 60 ou 70 anos sem saber expressar o que se sente, é muita desconexão. Mas é sempre possível aprender a voltar para nós mesmas”, destaca. Confira a entrevista feita com a Anelise e o Fala Guria logo abaixo.

ENTREVISTA 

FALA GURIA

Profissão: terapeuta corporal e ayurveda.

Ayurveda: “É uma medicina milenar, proveniente da Índia, que compreende que somos parte da natureza, formados dos mesmos elementos. A ayurveda sugere muitas formas de cura e autocuidado para que tenhamos uma vida longa e saudável. Gosto de compartilhar o conceito dos Purusharthas que são os objetivos da vida inerentes a todos nós: Artha (segurança, ligado às necessidades materiais), Kama (prazer), Dharma (missão) e Moksha (busca espiritual, libertação do sofrimento).

Ritualizar: “Sempre gostei de acender uma vela, um incenso, de fechar os olhos e silenciar. É a forma de eu me conectar comigo mesma.”

Respira e não pira: “O caminho do autoconhecimento é um exercício diário. Não há cura milagrosa. Acho perigosas essas terapias rápidas que prometem mudanças instantâneas. As pessoas estão muito vulneráveis e o mercado se aproveita disso”.

Massagem indiana: “Um anúncio de um curso de massagem indiana chamou minha atenção. Mas pensava: eu que nunca parei, nunca fiz yoga, meditação, ir lá em um retiro aprender massagem indiana? Fui, sem preconceitos. Foi um aprendizado lindo e um processo interno de liberação de dores. Chorei muito, aprendi outro tanto e voltei com o óleo de massagem para já começar a praticar, deu certo.”

Sem medo de ir e vir:  Anelise já morou em muitos lugares e trabalhou em diversas áreas. “Já fiz de tudo um pouco. Estudei administração de empresas, afinal a família tem um negócio de móveis. Vendi móveis, depois insumos agrícolas (rs), estudei serviço social, militei politicamente, trabalhei em hotel fazenda. Morei em Florianópolis, Pântano do Sul, São José dos Ausentes, Porto Alegre e até em Minas Gerais. Fui a Minas estudar ayurveda, pouco antes de começar a pandemia. Mas minha avó faleceu e voltei. Engravidei e aqui estou. Sou meio cigana e gosto disso. Agora criando raízes pela Aruana”.

O feminino: “É difícil para nós mulheres rompermos com os enquadramentos que a sociedade nos impõe. Há muita formatação, estamos evoluindo nesse rompimento”.

A voz feminina: “Nós mulheres ainda somos pouco ouvidas. Em uma roda de conversa, os homens nos interrompem ou não dão o mesmo valor as nossas falas. Por vezes, precisamos gritar para sermos ouvidas, nos masculinizamos. Mas tudo bem, no século XXI estamos assim e estamos em evolução”.

O sentido da vida: “A gente está sempre buscando o sentido da vida, é interno. Mas que tal silenciar a pergunta e deixar simplesmente a vida fluir? A gente tem que buscar viver sem pretensão, temos que fazer porque sentimos e não porque pretendemos. Busco encontrar o silêncio, para que tanta busca?”.

Pessoas são canais: Na minha vida, sempre chega alguém e aponta uma possibilidade. A Tainá Orsi foi minha madrinha, foi quem me levou à aldeia guarani. Destaco o Gabriel de Menezes, do Povo em Pé, que me incentivou a praticar a massagem indiana já na volta do curso. Se tivermos atentos, a todo o momento chegam informações e pessoas que nos ajudam a enxergar e enveredar pelo caminho de cura”.

Os saberes indígenas: “Nasci em uma família católica, fui coroinha, do CLJ, tenho uma trajetória de experiências cristãs. Penso que cada um tem que encontrar a sua forma de viver cultuar a espiritualidade. Eu me sinto muito bem de pé no chão, perto do fogo, como fazem os guaranis, é mais a minha cara do que ficar na igreja”.

Mulheres que nos antecederam: “Temos que honrar muito as mulheres que nos antecederam, trilharam trajetórias e abriram caminhos para que hoje pudéssemos ser o que queremos”.

Celebração: “É lindo poder ser quem se é e por em prática nossos talentos. Na constelação familiar, dizem que quando encontramos nosso caminho, todos os nossos ancestrais comemoram.

Especial Papo de Mulher | março de 2021

 

 

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