Zulema Sartor,
empresária

Zulema fala de empreendedorismo feminino
Especial Papo de Mulher

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por Giana Pontalti

Aos 77 anos, Zulema Sartor não pensa em parar. “Trabalho é a melhor coisa que tem”, enfatiza a empresária, proprietária da ZC Materiais de Construção.

A loja vacariense leva no nome a inicial de seus fundadores: “Z” de Zulema e “C” de Cléber, o filho mais velho. “O Cleber já se aposentou, mas eu nem penso nessa ideia”, diz a dinâmica senhora, que herdou do pai o vigor e o valor ao trabalho.

A empresária Zulema Sartor conversou com o Made in Vacaria sobre empreendedorismo feminino. | Foto: Samara Pacheco, Esthudio F18

“Fui criada na roça. Meu pai conta que eu pensava rápido e me chamava para ensinar a fazer contas de juros, pois não aprendíamos isso na escola. Desde cedo, aprendi a calcular e economizar porque na roça vende-se ovos para comprar açúcar”, diz. Foi com muito trabalho e planejamento financeiro que Zulema fez nascer, de um terreno de chão batido, uma empresa de mil metros quadrados, que hoje emprega 46 pessoas e vende mais de seis mil itens para a construção civil.

“Quando eu me separei, decidi empreender, pois tinha uma família para sustentar. Pegamos a enxada para limpar o chão bruto, passamos uma mão de tinta nas paredes e fixamos algumas prateleiras. Compramos alguns materiais para vender, e começamos assim: pequenos. Eu tinha conhecimento de ferragens, de construção, e tinha muitas amizades também. Aos poucos, os clientes foram chegando neste lado da BR. Há 30 anos, aqui era campo, e todos achavam longe. Um cliente me disse: mas a senhora agora está lá em Lages?”, diverte-se.

Em 1991, então, Zulema empreendeu, criando oportunidades para si e prosperidade para outros também. “Tem pessoas que, quando separadas ou viúvas, querem um companheiro. Eu foquei minha vida no trabalho, na minha missão, no estabelecimento da minha família”, diz.

Zulema tem quatro filhos, sete netos e dois bisnetos. “Todos os filhos já passaram pela loja, pois sempre precisamos de gente capacitada. Hoje, a Mônica está na gestão, e temos conosco o meu neto Pedro Henrique, que é comprador – ele é muito bom negociador. Mas se deixar, todo mundo quer vir trabalhar aqui. Digo que é possível, só depois de formados. Eu aprendi com a escola da vida, mas hoje é diferente, tem que se capacitar. Se não me posicionar, tomam conta, e vira muito cacique para pouco índio”, reflete.

Uma mulher de pulso firme: assim é Zulema. “Eu queria ter uma loja do meu jeito, queria o meu bem-estar. Quando era menina, não sonhava. Fui sonhar quando adulta. E um sonho recente foi construir um prédio de seis andares, aqui ao lado da ZC. Apesar de trabalhar há muitos anos com materiais para construção, eu nunca tinha construído”, conta.

Foi no seu apartamento, seu sonho concretizado, que Zulema nos recebeu pra conversar e contar a sua trajetória, embora não goste de exposição. Quando explicamos que a entrevista era para um Especial do dia 8 de março, gostou: “Acho importante essa homenagem porque as mulheres lutam muito, são batalhadoras. É mais difícil para as mulheres empreender, pois têm trabalho, casa, filhos. Mas há muitas que lutam e vencem, assim como eu”. Assista a entrevista com Zulema e confira o Fala Guria logo abaixo.

ENTREVISTA 

FALA GURIA

Profissão: empresária

Formação: Zulema estudou formalmente até a 6ª série – “Aprendi na escola da vida”. Hoje, ela defende o estudo e a capacitação dos profissionais. “Os netos só trabalham comigo depois de formados. Incentivamos sempre os nossos funcionários a irem para cursos. Sempre tem novidade, sempre há o que rever e aprender. Voltam motivados”, conta.

O que é preciso para empreender? “Para dar certo, tem que conhecer o ramo de atuação. Tem que trabalhar bastante e economizar, em primeiro lugar. Tudo que tu vais fazer é na base do orçamento: tem que saber quanto vai custar, como vai pagar e se pode pagar”.

“A gente percebe que tem gente que vem aqui querendo fazer uma casa muito maior do que cabe no seu orçamento (renda). Vai acabar devendo para todo mundo”.

Mulheres como protagonistas: “Nós mulheres temos condições de pensar em três coisas ao mesmo tempo, e o homem uma por vez. Meu filho fala: ‘Mãe, para. Diga uma coisa por vez, não consigo raciocinar’”.

“Agora temos uma estoquista mulher, muito boa. Tempos atrás iam dizer: imagina uma mulher subir em caminhão para conferia a mercadoria”.

Herança do pai: Zulema herdou de Antônio o amor ao trabalho. “Ele sempre dizia para trabalharmos muito e com honestidade. Ele dizia que antes de tirarmos um centavo de alguém, para darmos dois”.

Crescimento da ZC: “No começo, divulgávamos a loja, e como os clientes gostavam de ser atendidos por mim, começaram a vir. Mês a mês foi aumentando o número de clientes. Eu sempre fui de cativar o cliente, ajeitar, atender depois do horário, ajudar a resolver o que precisa hoje, não amanhã. A Mônica faz esse trabalho hoje”.

“Um cliente pediu, dia desses, um telhado americano para a sua casa. Fomos atrás para importar. Se a gente não fizer, outra empresa vai fazer.”

Mudanças: Zulema destaca a evolução na forma de trabalhar. “Em uma época, vinha o cimento por trem. Os funcionários iam até a ferroviária buscar os sacos de cimento, carregavam no braço. O mesmo acontecia com a areia, era tudo braçal”.

“Tempos atrás, os vendedores não eram autorizados a usar o celular durante o trabalho, porque ficavam no telefone, e o cliente esperando, à frente. Hoje, vende-se muito por Whatsapp”.

Horas vagas: “Até a pandemia, quando me recolhi, não sabia o que era hora vaga. Estava sempre na loja, e quando chegava em casa, ainda tinha a casa para cuidar. Com a pandemia, aprendi a ter muita paciência, não me imaginava dentro de casa tanto tempo, sou meio foguetinha”.

Equilíbrio: “Tenho autodomínio comigo, mas quando acho que estou estressada, busco ajuda profissional, tomo remédio, me cuido”.

Pandemia: “Aqueceu o nosso mercado. Nos últimos meses, se tivéssemos mais mercadoria (porque estava difícil adquirir) venderíamos mais”.

Sucessão: “Tempos atrás, um amigo contador me alertou que eu tinha de me preocupar com a sucessão – mal sabia eu que sucessão era dar continuidade à empresa. Hoje, busco ensinar tudo o que eu aprendi, e vamos avançando”.

“Eu dou poder a quem está na gestão, mas tenho que estar por dentro do que acontece. Tenho muito os pés no chão.”

Materiais pesados: “A gente vende muito material pesado para a obra. O nosso forte é o aço, o ferro. O ferro vem direto de uma siderúrgica, vem carga fechada. Nós não temos uma distribuidora, mas temos muitos clientes que compram de nós para revender, principalmente cimento. Conseguimos desconto máximo e temos tabela diferenciada para revendedores”.

Clientes: Temos clientes de toda a região, Esmeralda, Bom Jesus, Campestre, muitos granjeiros.

O que falta em Vacaria? “Ainda falta muita indústria, principalmente metalúrgica”.

Especial Papo de Mulher | março de 2021

 

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